"De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória." (Henri Cartier-Bresson)
Com uma câmara fotográfica em mãos sinto-me livre, parece que o mundo pára só para mim...em alguns minutos parece que só eu e a paisagem que me rodeia existe!
Fotografia é igual a liberdade?!? Arriscaria dizer que sim, pois se a fotografar me sinto tão livre a fotografia só pode ser liberdade!
É incrível como conseguimos imobilizar o "mundo" em fracções de segundo! Como diria Gérard Castello Lopes "A fotografia para mim é uma forma de bloquear o mundo" !!
A fotografia faz - me sentir bem, despida dos meus medos! Cada fotografia é um misto de sentimentos, fotografar não é simplesmente carregar no botão escolher um alvo e flash, como muita gente pensa...fotografar é muito mais que isso é um misto de emoções e cheiros!!
Nada melhor para retratar o acto de fotografar como este poema:
O FOTOGRAFO
Dificil fotografar o silêncio
Entretanto tentei .Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho,ninguem passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem da calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski - seu criador.
Fotografei a nuvem na calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros,2000
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